Quando fazer ginástica se tornou inegociável?

Sempre odiei Educação Física. E tenho uma justificativa plausível pra isso. Da 5ª a 8ª série tive uma professora que era uma verdadeira carrasca. Suzi era o nome dela. 

Além de ser aquela famosa aula em que se dá a bola para que as alunas joguem vôlei, ela nos colocava pra fazer 200 abdominais e um exercício chamado “canguru”, que era uma tortura para a menina que eu fui. 

Fora isso, em junho, época de Festa Junina, ela dizia que não éramos obrigados a dançar quadrilha, mas que quem não quisesse dançar iria suar sangue na prova de Educação Física. Enfim, admito que sou traumatizada e até hoje não jogo vôlei nem por brincadeira e também não danço quadrilha. 

Depois do colégio, fiz magistério e lá também tinha Educação Física. Foram 4 anos de curso e nos dois primeiros anos, se não me engano, as aulas eram comuns, com esportes como handebol e basquete. Depois, se tornaram aulas voltadas para brincadeiras infantis. Eu segui odiando Educação Física e brincadeiras de criança. A professora era menos carrasca do que a do colégio, mas ainda assim era péssima a ponto de nos colocar para dar manchete (um fundamento do vôlei) em bola de basquete. Telma era o nome dela, só pra ficar registrado

Quando entrei na faculdade, me recusei a fazer Educação Física. As aulas – no primeiro ano de curso – eram aos sábados, junto com as aulas de fotografia. Eu pedi um atestado médico falso pela primeira vez na vida e me senti ótima por não ter que passar pela tortura de novo. 

Depois de tudo isso, era impensável que algum dia eu fosse gostar de atividade física. Mas a verdade é que esse modelo de Educação Física ao qual fui submetida não tem nada a ver com atividade física. Tem mais a ver com tortura mesmo. Aquela professora, a Suzi, era uma cria da Ditadura Militar e talvez isso tenha influenciado aquele modelo de aula em escola pública (sempre estudei em escola estadual), tanto que todas as aulas começavam com Ordem Unida (direita volver! esquerda volver! sentido!).

Atividade física, hoje eu entendo, tem muito mais a ver com algo natural do ser humano, que é o movimento. O ser humano é bicho e não nasceu pra ficar parado. O corpo precisa de movimento. Eu aprendi isso lendo (afinal, nunca fui da turma da Educação Física rsrsr), mas também vivendo. 

CAMINHADAS E MOVIMENTO

Sempre gostei de caminhar, sempre fiz quase tudo da minha vida a pé. E o fato de eu não dirigir porque tenho medo, ajuda bastante nisso. Até hoje, com a facilidade dos carros de aplicativos, eu faço quase tudo a pé. E faço porque gosto, porque me programo pra isso. A caminhada, pra mim, é parte fundamental do caminho.

Eu me lembro de uma época em que morava muito muito perto da estação de metrô e comecei a andar até uma estação mais longe justamente pra poder caminhar mais. Parece loucura, mas pra mim é sanidade mental e física. Essas pequenas caminhadas fazem muita diferença. E a gente só percebe isso quando fica parado. 

Com o tempo, fui sentindo necessidade de ir além das caminhadas. Precisava de exercícios de força, musculação ou algo do gênero. O meu corpo pedia isso. Tentei academia algumas vezes, mas nunca foi meu forte. Pra mim, aquele ambiente se assemelha demais com a tortura da Educação Física.

Até que em 2017 eu descobri que podia treinar ao ar livre, que não precisava da academia pra fazer exercício de força. Eu aprendi tudo isso com a Ju Romantini, treinadora corpo e mente que desenvolveu uma metodologia chamada Prática Integral. 

Nesse momento, entendi que gostava de atividade física e que ela não precisava ter a ver com aquelas aulas de Educação Física com jogos de vôlei e 200 abdominais. Entendi que os corpos são diferentes e com potenciais próprios, que cuidar do corpo não desmerece cuidar da mente, que dá pra fazer exercício no parque, que dá pra fazer atividade sozinha depois que você aprende, que dá pra se desafiar mais sem ser torturada, que a sensação depois de uma atividade não é apenas de “dever cumprido”, mas de alegria e gratidão. 

Hoje, atividade física é algo praticamente inegociável na minha vida. Faço aulas duas vezes por semana, fiz aulas online na pandemia, e vou pro parque caminhar/correr quase todos os dias. Eu faço porque é importante, porque preciso (afinal, já são 42 anos né?), mas também porque eu gosto. 

Tem exercício que é chato? Tem. Às vezes é desconfortável e os músculos doem? Sim. Mas quando a atividade física é feita de um jeito inteligente e respeitoso, isso fica muito pequeno porque o foco não é o sacrifício, mas o benefício. Uma coisa importante que aprendi é começar fazendo o possível e ir avançando degrau por degrau. 

Eu, por exemplo, sempre tive medo de virar de cabeça pra baixo. E as aulas da Ju são cheias de penduradas e viradas. Meus pés não saiam do chão no começo. Hoje, está bem melhor e sei que vai melhorar ainda mais. 

Talvez, naquele modelo Educação Física do colégio, tivessem me obrigado a virar de cabeça pra baixo no primeiro dia. E isso seria mais um trauma pra coleção. Mas foi aos poucos. Eu tive que querer e me empenhar, é verdade. Afinal, treino é treino, é fazer todo dia. Mas quando se tem respeito com a gente, com o corpo, com os traumas e com os gostos pessoais, fica bem mais fácil.