Nos últimos tempos, aprendi que as ferramentas do jornalismo – como a entrevista, a apuração em fontes primárias e a checagem das informações – podem estar a serviço de outros tipos de conteúdo além da reportagem tradicional.
Foi assim que ajudei a escrever alguns artigos para um Trendbook sobre o Futuro da Tecnologia. E foi nesse mergulho que eu entendi um pouco mais o que faz um futurista e qual a sua função no mundo.
Nessa pesquisa, não pude evitar de pensar sobre a relação entre esse futuro que os futuristas estudam e o presente. Porque um dos trabalhos que eu desenvolvo há mais tempo, com a treinadora do corpo e da mente Ju Romantini, fala muito de “viver o agora”. E aí, quando eu descobri que a Unesco considera o Futures Literacy (alfabetização em futuro) uma habilidade fundamental para todas as pessoas, fiquei pensando na relação entre esse futuro para o qual precisamos nos alfabetizar e o presente que é cada vez mais valorizado.
Conclui que a equação não é muito difícil. Michell Zappa, futurista e fundador da Envisioning, definiu Futures Literacy como “entender o papel que o futuro tem sobre o presente”. E isso já acontece no dia-a-dia, muitas vezes sem que a gente perceba.
Um exemplo: se sabemos que a água é um recurso escasso e economizamos hoje para não faltar amanhã, o futuro está agindo sobre o presente. É um tipo de raciocínio tão óbvio que passa batido pelo nosso dia a dia.
Nas conversas mais rasas, usamos o argumento do “Viva o Agora” como uma desculpa pra um comportamento mais intempestivo, que não leva em conta consequências. Vou gastar tudo hoje porque caixão não tem gaveta, vou comer o que eu quero porque não sei se vou estar vivo amanhã, e por aí vai.
Mas e se você estiver vivo amanhã (o que é bem provável que aconteça)?
A mentora em longevidade Candice Pomi me disse em uma entrevista que a velhice daqueles que são jovens hoje em dia deve ser afetada por um comportamento exagerado de “viva o agora”. Ela chamou de dilema do “carpe dien x como vai ser minha vida no futuro”. Isso tem a ver com as discussões sobre sistemas de aposentadoria pelo mundo, que estão sendo impactados pela nossa longevidade. “Somos um país que está envelhecendo pobre e não tem a cultura do planejamento e nem de poupar”.
Bom, poupar tem a ver com o presente. E aposentadoria tem a ver com o futuro.
Por isso, pensar no futuro a partir do que se pode fazer hoje, nesse tão valorizado agora, me parece uma boa saída. Cada vez mais o futuro vai depender dos nossos comportamentos individuais. E aí, juntar Futures Literacy com Viva o Agora pode ser uma saída.