No longínquo 2012, fiz uma entrevista com o músico Marcelo Jeneci para a Revista do Tatuapé. Como era uma revista de bairro, eu achava que ele nem ia querer conversar pessoalmente comigo (acreditem, isso acontece demais). Mas ele aceitou o papo cara a cara e lá fomos nós, eu e o fotógrafo Rodrigo de Paula, do Tatuapé até a Lapa.
Quando você sai para uma entrevista, vai com uma ideia pré-concebida do seu entrevistado. Se você não o conhece pessoalmente, fica imaginando como será recebido, se haverá tempo suficiente para falar sobre tudo, se a entrevista será interrompida bruscamente etc.
Marcelo entrou para o rol do melhor tipo de entrevistado: aquele que não apenas abre, mas escancara a porta da sua casa. Ele foi muito mais receptivo do que eu poderia imaginar. Antes da entrevista, preocupou-se em mostrar a casa, do quarto ao estúdio. E ainda perguntou se estávamos com pressa, porque ele queria escovar os dentes. Achei simpático.
A fala pausada, demonstrando que ele pensava antes de falar, mostrou que tempo não era um problema. E Marcelo falou sem pressa, sem medo. No final, ainda perguntou se queríamos ficar por lá, fazendo uma hora até passar o rush do trânsito. Bem, não ficamos….
Saí da Lapa e voltei para o Tatuapé pensando na vida, nas coisas que priorizamos, na forma que escolhemos viver. Jeneci fala devagar, pensa muito antes de dizer algo, passa uma imagem de alguém muito calmo. Eu não o conheço para além desse contato e para além da sua música, mas lembro que depois dessa entrevista fiquei com aquela vontade de fazer tudo mais devagar.
Por isso eu digo que é um privilégio fazer entrevistas. É uma forma de aprender não só sobre um assunto novo, mas também sobre a vida a partir daquilo que ouvimos do outro.