Grandes empresas podem (e devem) ajudar a floresta em pé.

Sempre fiquei cabreira com as empresas querendo pagar de boazinha plantando árvores ou dando dinheiro para projetos ambientais. Na minha cabeça, elas tinham que se preocupar em mudar a forma de produzir. 

Mas mudar a forma de produzir pode levar tempo, algo que a humanidade não tem para frear o aquecimento do Planeta. Um artigo publicado no The Guardian diz que, com base nas metas de curto prazo estabelecidas pelos países na COP 26, o aumento da temperatura chegará a 2,4 °C até o final desse século. Esse número ultrapassa o limite máximo de 2 °C definido pelo acordo de Paris e, também, o limite mais seguro de 1,5 °C pretendido nas negociações da COP 26.

Nesse contexto, a atuação das empresas em conservação e regeneração se torna muito importante, porque são duas soluções que colaboram para um ganha-ganha coletivo. 

“Enquanto o fim do desmatamento reduz drasticamente a emissão de gases de efeito estufa, a restauração das florestas e demais ecossistemas podem sequestrar enormes quantidades desses gases. Além disso, os ecossistemas nos oferecem serviços para garantir água em quantidade e com qualidade, manter e até aumentar a produção de alimentos. Por fim, a biodiversidade protegida e em equilíbrio diminui o risco das epidemias e pandemias transmitidas pela vida silvestre”, diz Luís Fernando Guedes Pinto (diretor de conhecimento da SOS Mata Atlântica) e Ana Paula Bortoletto (pós-doutoranda do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo), em artigo publicado no Nexo Políticas Públicas.

Não é que as empresas não devem mudar o seu jeito de produzir, sua relação com o meio-ambiente e com as pessoas. Isso é uma obrigação que, inclusive, o mercado financeiro já está cobrando das corporações. Mas, além disso, elas também devem trabalhar pela floresta em pé, pela preservação da biodiversidade e das diferentes formas de vida que existem porque a própria sobrevivência da espécie humana depende disso. 

Selecionei aqui 3 exemplos de empresas que estão buscando participar ativamente desse mundo em que a floresta não pode cair. 

Mercado Livre

O programa Regenera América foi lançado em março e vai financiar iniciativas de conservação e regeneração de biomas na América Latina que possam capturar carbono e contribuir para a preservação da biodiversidade e serviços ambientais. As primeiras ações vão acontecer na Mata Atlântica. Em parceria com a TNC (The Nature Conservancy), a meta é restaurar e conservar 2.700 hectares junto a pequenos produtores, dentro do programa Conservador da Mantiqueira, o que vai ajudar a proteger bacias que abastecem as duas principais metrópoles do Brasil e deve beneficiar 500 famílias de 284 municípios. Com o Instituto de pesquisas ecológicas (IPE) será feito o plantio direto de espécies nativas em áreas degradadas no Pontal do Paranapanema, conectando remanescentes de mata atlântica em corredores ecológicos para regenerar 300 hectares.

L´oreal

Por meio do Fundo L’oreal para a Regeneração da Natureza, a empresa de cosméticos vai destinar 50 milhões de euros para financiar projetos de restauração de ecossistemas marinhos e florestais danificados. O fundo será operado pela Mirova, uma afiliada da Natixis Investment Managers, empresa dedicada ao investimento de impacto. O objetivo é restaurar 1 milhão de hectares e capturar de 15 a 20 milhões de toneladas de CO2 até 2030. O programa é global, mas a L’oréal Brasil vai apresentar iniciativas para concorrer ao recurso.

Votorantim S/A

O Legado das Águas é uma reserva ambiental mantida pela Votorantin S/A. São 31 mil hectares de terra (ou seja, 31 mil campos de futebol) onde são desenvolvidos inúmeros projetos, como viveiro de mudas, preservação de espécies nativas – como a Palmeira Juçara – , pesquisa científica, turismo, além do comércio para fins de compensação de reserva legal. É uma área que, além de preservar a floresta, gera recursos para se sustentar sem que haja degradação do ambiente.