Existem empresas que já olham para o Desenvolvimento Sustentável? Sim!

A COP 26 começou domingo (dia 31/10/21) e o assunto “clima” vai ficar na pauta por um bom tempo, o que é ótimo. Afinal, não adianta jogar o problema pra baixo do tapete. É preciso encará-lo de frente porque afeta a vida de TODO MUNDO e já faz parte do presente, não mais do futuro. 

Não há dúvida que vivemos uma  situação de emergência climática e que algo precisa ser feito. Também não tenho dúvida de que sempre vão existir  pessoas e empresários que não se dispõem a pensar em negócios que podem ser benéficos para o planeta e vão seguir pensando apenas em si.

O que eu espero é que essas pessoas sejam minoria e que o mundo do empreendedorismo seja capaz de fortalecer cada vez mais aqueles negócios que colocam a premissa do desenvolvimento sustentável à frente. 

Lembrando que isso não quer dizer que tais negócios não precisam lucrar. Essa é uma visão arraigada na nossa cultura e faz muita gente pensar que desenvolvimento sustentável não pode se relacionar com negócios lucrativos. Na verdade, o desenvolvimento sustentável não pode é se relacionar com negócios que querem lucrar a qualquer preço, incluindo a destruição dos recursos que o planeta nos oferece e, consequentemente, da nossa qualidade de vida. 

Nesse artigo, quero propor que vocês conheçam 5 empresas que existem, funcionam, faturam, são brasileiras e tem no seu core soluções que caminham junto com a sustentabilidade. 

Elas são a solução de todos os nossos problemas e da crise climática? Não. Mas mostram que existe um caminho que pode ser trilhado e para o qual pessoas e governos devem olhar. 

Juçaí

Bruno Correa, Gerente Geral da Juçaí. Foto: Divulgação

Fundada em 2009 na Serrinha do Alambari, distrito de Resende (RJ), a Juçaí produz sorbets à base do fruto da palmeira-juçara (Euterpe edulis), uma prima do Açaí, porém originária da Mata Atlântica.

É uma planta ameaçada de extinção por causa da extração ilegal do palmito, que para ser feita precisa matar a árvore. Já para Juçaí, é fundamental que as palmeiras fiquem em pé e frutifiquem, o que também é importante para o ecossistema e para a biodiversidade existente no que resta da Mata Atlântica (apenas 12,4% de remanescentes da floresta no Brasil), já que o fruto faz parte da alimentação de cerca de 70 espécies da fauna, como tucanos, sabiás, gambás, tatus e esquilos, e amadurece entre o outono e o inverno, época de escassez de alimentos para os animais. É para alimentar essa fauna que 33% dos frutos são deixados nas árvores durante a colheita.

Os coletores escalam as palmeiras e retiram os cachos de frutos inteiros, deixando um terço das frutas intocadas para a fauna se alimentar. Desse fruto é extraída a polpa, enquanto a semente é usada em novos plantios. Cooperativas do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Paraná são as fornecedoras de frutos para Juçaí, um trabalho que impacta positivamente a vida de 800 famílias. Com relação ao meio-ambiente, estima-se que, em 2020, tenham sido conservadas 8942 palmeiras.

No Carbon

Luís Laranja da Fonseca, sócio-fundador da NoCarbon. Foto: Divulgação

Lançada em 2021, a NoCarbon produz leite, coalhada, kefir, creme de leite e queijos orgânicos e com certificação carbono zero. Toda a operação está sustentada em 3 pilares: bem-estar animal, carbono zero e uso responsável dos recursos naturais. 

O bem-estar das 400 vacas é certificado pela Certified Humane Brasil e inclui cumprir uma série de regras, como não criar os bezerros em gaiolas individuais, não usar nenhum tipo de promotor de crescimento, oferecer aos animais acesso à alimentação 24 horas por dia etc. 

O pilar Carbono Zero está ligado ao plantio de árvores nativas para compensar todas as emissões de gases de efeito estufa geradas desde a criação dos animais até a entrega do produto embalado para os pontos de venda. A NoCarbon precisa plantar 3 hectares de floresta por ano para compensar essas emissões. E a empresa já preparou o plantio suficiente para um ano de operação. 

O uso responsável dos recursos naturais é feito com o manejo orgânico e sustentável do solo e de toda a produção, incluindo as lavouras que produzem os alimentos das vacas, como sorgo e feijão lab lab. O próprio plantio das florestas de compensação é feito com plantas nativas da região para que seja ainda mais sustentável e eficiente nos serviços ambientais. 

Boomera

Guilherme Brammer Jr, fundador da Boomera. Foto: Renato Stockler

A geração de lixo é uma questão que impacta em tudo que tem a ver com meio-ambiente e qualidade de vida. E a Boomera atua na Economia Circular, transformando  resíduos em matéria-prima e em produtos reciclados, um trabalho  que já desviou dos aterros sanitários 60 mil toneladas de plástico. Um exemplo é a transformação de embalagens dos produtos da marca Sou, da Natura, em resina plástica que pode ser aplicada em 12 tipos diferentes de novos produtos. 

Mas o impacto dessa operação não se restringe a desviar lixo dos aterros. A empresa também impacta a vida dos catadores, das cooperativas e o desenvolvimento da ciência no Brasil. São 200 cooperativas que trabalham em parceria com a Boomera e 8 mil catadores (de 13 estados) tiveram um salto na renda de 400 reais para 1 500 reais por mês. No quesito ciência, a empresa mantém um laboratório de pesquisa e inovação em parceria com o Instituto Mauá de Tecnologia, o que ajuda a formar novos cientistas e a criar mercado para os produtos desenvolvidos lá dentro — um deles, uma tecnologia de reciclagem de fraldas descartáveis sujas.

Gooxxy

Vinicius Alves, fundador da Gooxxy. Foto: Divulgação

A Gooxxy é uma plataforma criada para reposicionar produtos próximos ao vencimento ou que não venderam bem (e por isso serão descontinuados), ou, ainda, que não passam pelo crivo de qualidade da própria indústria, como um biscoito fora do formato padrão, um rótulo com problema de impressão ou uma embalagem com defeito.

O que a Gooxxy faz é conectar grandes fabricantes de alimentos e bens de consumo em geral — como Femsa, Nestlé, Arcor, Unilever — a cerca de 600 varejistas pelo país, permitindo recolocar esses produtos que iriam para o lixo em novos mercados.

Assim, cria-se uma lógica de ganha-ganha-ganha. A indústria não precisa arcar com os custos (financeiros e ambientais) de descartar os produtos e as redes varejistas, por sua vez, lucram comercializando essas mercadorias ainda próprias para consumo. E o consumidor final acessa produtos de qualidade por um preço menor.

PretaTerra

Paula Costa e Valter Ziantoni, da PretaTerra. Foto: Divulgação

A empresa desenvolveu uma metodologia para que a agrofloresta possa ser utilizada em larga escala, como uma solução sustentável para o agronegócio.

Por essa metodologia, o sistema produtivo é planejado de forma modular, replicável e elástica. Com um projeto em mãos, a Pretaterra planeja módulos para um hectare (área equivalente a 10 mil m²) que pode ser replicado em meio hectare ou um milhão de hectares.

Assim, o projeto se torna viável em qualquer escala, inclusive com vários agricultores espalhando isso na paisagem. Cada projeto prevê aspectos como volume de colheita e retorno financeiro ao agricultor. A ideia é que as agroflorestas possam ser ferramentas não apenas de sustentabilidade ambiental, mas também econômica e social.